domingo, 20 de novembro de 2011

Massacre de Índios no Mato Grosso do Sul - Onde estão os Direitos Humanos no Brasil?

O seguinte texto é relato sobre a violência sofrida pela Aldeia Amambai, em que foi assassinado o líder Nísio. Recebi, por e-mail, o relato do NEPPI UCDB esta manhã. Onde está a justiça? Onde estão os direitos humanos? Ou melhor, com quem estão? Até quando será permitido essa violência, essa impunidade?

Carta de Protesto - Massacre de indígenas em acampamento em Amambai

Estudantes Guarani e Kaiowá dos cursos de Ciências Sociais e História e moradores da aldeia de Amambaí.
Por volta das seis horas chegaram os pistoleiros. Os homens entraram em fila já chamando pelo Nísio. Eles falavam segura o Nísio, segura o Nísio. Quando Nísio é visto, recebe o primeiro tiro na garganta e com isso seu corpo começou tremer. Em seguida levou mais um tiro no peito e na perna. O neto pequeno de Nísio viu o avô no chão e correu para agarrar o avô. Com isso um pistoleiro veio e começou a bater no rosto de Nísio com a arma. Mais duas pessoas foram assassinadas. Alguns outros receberam tiros mas sobreviveram. Atiraram com balas de borracha também. As pessoas gritavam e corriam de um lado para o outro tentando fugir e se esconder no mato. As pessoas se jogavam de um barranco que tem no acampamento. Um rapaz que foi atingido por um tiro de borracha se jogou no barranco e quebrou a perna. Ele não conseguiu fugir junto com os outros então tiveram que esconder ele embaixo de galhos de árvore para que ele não fosse morto.Outro rapaz se escondeu em cima de uma árvore e foi ele que me ligou para me contar o que tinha acontecido. Ele contou logo em seguida. Ele ligou chorando muito. Ele contou que chutaram o corpo de Nísio para ver se ele estava morto e ainda deram mais um tiro para garantir que a liderança estava morta. Ergueram o corpo dele e jogaram na caçamba da caminhonete levando o corpo dele embora.Nós estamos aqui reunidos para pedir união e justiça neste momento.
Afinal, o que é o índio para a sociedade brasileira? Vemos hoje os direitos humanos, a defesa do meio ambiente, dos animais. Mas e as populações indígenas, como vem sendo tratadas? As pessoas que fizeram isso conhecem as leis, sabem de direitos, sabem como deve ser feita a demarcação da terra indígena, sabem que isso é feito na justiça. Então porque eles fazem isso? Eles estão acima da lei? O estado do Mato Grosso do Sul é um dos últimos estados do Brasil mas é o primeiro em violência contra os povos indígenas. É o estado que mais mata a população indígena. Parece que o nazismo está presente aqui. Parece que o Mato Grosso do Sul se tornou um campo de fuzilamento dos povos indígenas. Prova disso é a execução do Nísio. Quando não matam assim matam por atropelamento. Nós podemos dizer que o estado, os políticos e a sociedade são cúmplices dessa violência quando eles não falam nada, quando não fazem nada para isso mudar. Os índios se tornaram os novos judeus. E onde estão nossos direitos, os direitos humanos, a própria constituição? E nós estamos aí sujeito a essa violência. Os índios vivem com medo, medo de morrer. Mas isso não aquieta a luta pela demarcação das terras indígenas. Porque Ñandejara está do lado do bom e com certeza quem faz a justiça final é ele. Se a justiça da terra não funcionar a justiça de deus vai funcionar.

Estudantes Guarani e Kaiowá dos cursos de Ciências Sociais e História e moradores da aldeia de Amambaí.

sábado, 19 de novembro de 2011

Pistoleiros continuam matando índios no Brasil?!

Recebi o seguinte texto por e-mail. É do NEPPI (Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas) e da  Rede de Saberes, um projeto que apoia a permanência de indígenas no ensino superior. É espantoso que, em pleno século XXI, num regime democrático, esse tipo de conflito ainda aconteça; e, enquanto isso, a imprensa [Global] passa a semana inteira falando da ação policial na Rocinha?!
O direito à Justiça, à Liberdade, à Democracia, à Vida ainda é negado a boa parte da população brasileira!



O sorriso matadoBalas assassinas mataram Nisio Gomes. Seu jeito meigo e sorridente, era sua característica principal, inconfundível. Sua fala baixa, se tornava por vezes quase incompreensível. Ele estava em quase todas as mobilizações de luta do povo Kaiowá Guarani pelos seus direitos, especialmente à terra. Nos últimos dez anos já voltara quatro vezes a seu tekohá Guaiviry. Era um lutador resistente, persistente. Não desistia nem por nada a seu sagrado chão. Guduli, nhandesi, sua companheira, morrera há três anos, sem a alegria de viver em sua terra Guaiviry. Ela era entusiasta e contagiava com sua disposição. Era profunda conhecedora a vida e religiosidade de seu povo. Era de uma energia inquebrantável. Com sua morte o grupo ressentiu bastante, mas não desistiu de sua luta, a volta ao tekohá.
Nisio sorriso tombou, nesta manhã. Friamente executado diante do seu .grupo por pistoleiros contratados pelos interesses contrariados da região. Mataram um lutador sorridente, mas não conseguiram matar a luta. Dois dias antes de ser assassinado 45 Kiaowá Guarani, que participaram da Jeroky Guasu em Laranjeira Nhanderu, foram levar apoio, solidariedade e alguns alimentos aos seus parentes acampados em Guaiviry. O grupo pressionado e cercado há 20 dias ficou muito feliz e alegre com a visita dos parentes. Numa das fotos Nisio, diante de seu barraco, está sorridente. Assim um dos membros da delegação descreveu a visita “O grupo está na mata, estão bem. Decidiram que vão ficar ali, porque a terra lá é deles mesmo, eles não querem sair de lá. Já é a quarta vez que eles retornam para aquela terra. O Kaiowá é assim, quando decide uma coisa, ninguém segura. Nós chegamos e fomos ver os barracos deles, o pessoal foi dançar com eles. Eles já fizeram um yvyra'i (altar) lá.” (Kuarahy)
Decisão
Infelizmente vemos mais sangue sendo derramado neste chão da nação Guarani Kaiowá. É um absurdo vermos tanto impunidade estimulando novas matanças dos nativos da terra, sem que sua terra lhes seja garantida. Porém nada os demove os Kaiowá Guarani de terem de volta seus pedaços de chão, para viverem em paz. “Ninguém vai fazer por nós, somos nós mesmos que temos que fazer. Como nós vemos lá, o Guaiviry, o pessoal está resistindo, estão dizendo que vão permanecer lá, apesar do perigo, da dificuldade, da falta de atendimento. Essa é a decisão deles, e a decisão de cada um que está numa retomada hoje: Ypo'i, Kurusu, Amba, Pyelito. Isso é o que de fora as pessoas têm que ver. “ ( Kuarahy).
Após duas horas de conversa e rituais, conversa amena e preocupante assim foi relatada a situação “Por enquanto, lá no Guaiviry, ainda não houve nenhum ataque. Uma pessoa nos contou que quase encontrou com um pistoleiro enquanto estava andando pela mata. Esse é o perigo que eles estão passando. No momento, não estão sendo atacados, mas nunca se sabe...”
Não demorou quarenta horas e o  ataque e massacre aconteceu. Quanto sangue ainda precisará ser derramado para que se cumpra a Constituição e legislação internacional  garantindo aos povos nativos, no caso os Kaiowá Guarani, suas terras e o sorriso volte aos rostos abatidos pela violência?
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo, 18 de novembro de 2011